TEXTOS E CRÍTICAS
por Luã de Abreu
CRÍTICA DE BACURAU (2019)
SE FOR, VÁ NA PAZ, SE VOLTAR, CUIDADO.
“Quem nasce em Bacurau é o que?
É gente.”
Em meio a tentativa de erradicar tudo o que se faça pensar em nosso país, Bacurau surge como um respiro, servindo de fio de esperança e para que as pessoas no poder não se esqueçam como a arte é vital e como a resistência nunca esteve em um momento tão emergente, ainda mais depois das opressões que passou, coisa que é trama central em Bacurau.
Mas, afinal, o que é Bacurau? Questão essa que há de ter passado pela cabeça de quem ouviu falar, dúvida que há de ter pairado sobre o subconsciente e há de ter deixado uma fagulha de curiosidade até o momento de assistir essa obra. E o interessante aqui é que Bacurau é tudo o que pudermos imaginar; cidade, pássaro, rito, personagem, lenda e grito. Bacurau é tudo isso e mais.
Para que Bacurau possa ser tudo o que ele quer – e pode – ser, a obra bebe de diversas fontes presentes na sétima arte; como em seu começo, com os créditos abrindo como em Star Wars, com pontinhos brancos das estrelas ao fundo da tela preta e como em sua trama violenta e visceral, assim como em toda a saga da Mad Max, trazendo todo clima de ficção científica e western, respectivamente.
O longa passeia entre sensações, sentimentos e críticas sociais. O diretor Kléber Mendonça Filho afirmou, em uma divulgação do filme em São Paulo que nunca fez um filme com o intuito de passar qualquer mensagem que seja, mas o que temos aqui é uma obra autossuficiente para falar o que deseja por si só, sem necessidade de terceiro que falem por ela.
Bacurau escancara situações que diversos povos do Brasil já passam, como quando a cidade é apagada do mapa e esquecida pelo resto do mundo, isso apenas evidencia sensações que as pessoas que vivem no Nordeste passam diariamente. O abandono e o descaso são evidentes, falta água, falta luz, falta saneamento básico, falta comida, falta dignidade e falta atenção.
O filme se passa em um futuro não-tão-distante e não é isso que o faz tão atual. A maneira como os “Americanos puros” vêem os “brasileiros-não brancos” da América do Sul é constrangedora e alarmante, situação que não foi colocada apenas para chocar e sim para colocar os holofotes no racismo institucional que vem de fora para dentro. Os estrangeiros vão para Bacurau para matar, dilacerar e gozar de prazeres com a minoria.
Assim como dito por Sigmund Freud em “Psicologia das Massas e a Análise do Eu” de 1921: “O fascismo pertence à categoria de uma psicologia de massa, portanto, só pode ser explicado enquanto fenômeno coletivo.” Em Bacurau essa citação ganha um peso enorme pois os estrangeiros só externam seu comportamento hostil quando estão em bando, entre os seus semelhantes.
Neste ponto, pode-se traçar um parâmetro com os dias atuais, representado pelo discurso de Michael, personagem interpretado pelo ator alemão Udo Kier, que recruta fascistas americanos para dizimar lugares que porventura foram esquecidos pelo governo e pelas pessoas no geral. Isso traz uma sensação amarga e palpavelmente constrangedora por sabermos que tal situação acontece no Brasil e no mundo.
Fascistas, racistas e supremacistas estão escondidos apenas esperando que uma voz os represente e os dê coragem de externar sua conduta violenta e odiosa. Mas, o que os estrangeiros não esperavam é que, o povo sofrido de Bacurau não se esqueceu quem é, de onde veio e que não só sabia como iria se defender. Esse é o ponto crucial do longa, o discurso é de resistência.
É importante destacar como a violência é tratada em Bacurau pois, em diversos momentos pode-se perceber a falta do espanto com tanta coisa acontecendo, insinuando psicológicos já calejados por tempos difíceis outrora vividos. Os personagens desse longa podem muito bem ser qualquer cidadão do Nordeste brasileiro e estes, não se impressionam com qualquer coisa, são fortes.
Bacurau é um belíssimo estudo de mundo e sociedade em termos atuais, com situações constrangedoras para alguns e comuns para outros, o longa não se omite e escancara, mesmo que de forma extravagante e fictícia, a realidade em que vivemos. A obra não te deixa esquecer quem somos, de onde viemos e como devemos nos portar e, mesmo que se necessário derramar sangue, para onde queremos chegar.
GAME OF THRONES É A MAIOR SÉRIE DE TODOS OS TEMPOS?
Opinião sempre foi e sempre será algo sensível e passível de divergências, afinal, todos temos nossos gostos e opiniões particulares, por exemplo, veja o nosso Recomendamos, o que pode ser bom para mim, pode não ser para outra pessoa, então, como definir a maior série de todos os tempos? Há quem diga que é Friends, Lost, Breaking Bad (o que é meu caso) e claro, Game of Thrones, uma das séries mais comentadas dos últimos 15 anos.
Em 2017, Game of Thrones foi eleita a melhor série dos últimos 20 anos pelos leitores do site Rotten Tomatoes, que mostra através de porcentagem, a qualidade dos filmes e séries, se baseando em críticas especializadas e participação dos usuários. A série ficou em primeiro lugar com 11% dos votos, seguida por Breaking Bad, com 7% e as séries de comédia The Big Band Theory e Friends ficaram empatadas com 5% dos votos cada.
A produção da HBO, que começou sem muita verba para investimento, apostou em tramas políticas, estratégias de guerra, diálogos muito bem escritos e desenvolvimento de personagens para cativar o seu espectador e, ao longo dos anos, foi adicionando cada vez mais pitadas de fantasia, algo que era a cereja do bolo para a série. O elenco era algo à parte, que com Sean Bean (Ned Stark) no comando, deixava a história mais interessante.
Por conta do seu roteiro bem escrito e reviravoltas marcantes, Game of Thrones angariava mais e mais fãs da saga das Crônicas de Gelo e Fogo, escrita por George R. R. Martin e com isso, a produção foi ficando cada vez mais cinematográfica e quebrando os padrões comuns para as séries de televisão, com um orçamento digno de filmes de Hollywood e se firmando como uma das maiores séries da atualidade.
Há tempos não se tinha um sentimento como esse, com pessoas se reunindo para assistir uma série de televisão, indo para as casas uns dos outros, como aconteceu com Lost, de 2004 a 2010. Sem dúvidas que, assim como em Lost, o final de Game of Thrones não agradou muito aos fãs, que reclamaram da falta de coerência em alguns aspectos, mas, isso não muda o fato de que o último episódio da série foi um dos mais aguardados de todos os tempos.
Dito isso, diversas pessoas ainda podem discordar, pois não há verdade absoluta, mas, existem diversos fatos que não podemos ignorar e um deles é: Se Game of Thrones não for a melhor série de todos os tempos, ela definitivamente é a maior de todas, o patamar que a série de fantasia medieval se colocou, nenhuma outra alcançou, fazendo com que cada episódio e cada final de temporada fosse como um evento global para o deleite dos espectadores.